sábado, 27 de abril de 2013

Las Conversations Imaginaires (pero no mucho)


  • B. "Sua burricida..."
  • L. "Se eu fosse, cê num tava mais aí!"

  • (no facebook)
  • B. "(...) nesse frio? ta precisando de animo...
  • L. "Ânimo ou animo?
  • B. "O que é um acento pra quem tá deitado?"

  • M. "Seu pai inventou de ter uns peixes agora... como chama mesmo quem mexe com isso?"
  • L. "Psicultor?"
  • M. "Não, ele num vai criar, só pra ficar admirando..."
  • L. "Ah, psicólogo".

  • L. (na rua, sob a sacada)"Bê, seu corno, jogue suas tranças!"
  • B. (da sacada) "Hoje não, tô de bobs..."

  • L. (aos 13 anos de idade) "H., cê tá me ouvido?"
  • H. (aos 11 anos, emburradíssima) "Não!"



Como assim?






O bom de ir ao salão de beleza é achar pérolas como essas...









sexta-feira, 26 de abril de 2013

Banho de Sol





Se Deus quiser
Um dia eu quero ser índio
Viver pelado
Pintado de verde
Num eterno domingo
Ser um bicho preguiça
Espantar turista
E tomar banho de sol
Banho de sol!
Banho de sol!
Sol!...

Se Deus quiser
Um dia acabo voando
Tão banal assim
Como um pardal
Meio de contrabando
Desviar do estilingue
Deixar que me xingue
E tomar banho de sol
Banho de sol!
Banho de sol!
Banho de sol!...

Se Deus quiser
Um dia eu viro semente
E quando a chuva
Molhar o jardim
Ah! Eu fico contente
E na primavera
Vou brotar na terra
E tomar banho de sol
Banho de sol!
Banho de sol!
Sol!...

Se Deus quiser
Um dia eu morro bem velha
Na hora "H"
Quando a bomba estourar
Quero ver da janela
E entrar no pacote
De camarote...
E tomar banho de sol
Banho de sol!
Banho de sol!
Banho de sol!...
Sol! Sol! Sol!...

Rita Lee, trechos de 'Baila Comigo'

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O diabo na rua, no meio do redemoinho



"[...] Tudo. Tem até tortas raças de pedras, horrorosas, venenosas - que estragam mortal a água, se estão jazendo em fundo de poço; o diabo dentro delas dorme: são o demo. Se sabe? E o demo - que é só assim o significado dum azougue maligno - tem ordem de seguir o caminho dele, tem licença para campear?! Arre, ele está misturado em tudo.
Que o que gasta, vai gastando o diabo de dentro da gente, aos pouquinhos, é o razoável sofrer. E a alegria de amor - compadre meu Quelemém diz. Família. Deveras? É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é... Quase todo mais grave criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho, bom pai, e é bom amigo-de-seus-amigos! Sei desses. Só que tem os depois - e Deus, junto.
[...]
O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo eu digo: para pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa dor por fundo de todos os matos, amém! Olhe: o que devia de haver, era de se reunirem-se os sábios, políticos, constituições gradas, fecharem o definitivo a noção - proclamar por uma vez, artes assembléias, que não diabo nenhum, não existe, não pode.
[...]
Tão bem, conforme. O senhor ouvia, eu lhe dizia: o ruim com o ruim, terminam por as espinheiras se quebrar - Deus espera essa gastança. Moço!: Deus é paciência. O contrário é o diabo. Se gasteja. O senhor rela faca em faca - e afia - que se raspam. Até as pedras do fundo, uma dá na outra, vão-se arredondinhando lisas, que o riachinho rola. Por enquanto, que eu penso, tudo quanto há neste mundo, é porque se merece e carece. Antesmente preciso. Deus não se comparece com refe, não arrocha o regulamento. Pra que? Deixa: bobo com bobo - um dia, algum estala e aprende: esperta. Só que, às vezes, por mais auxiliar, Deus espalha, no meio, um pingado de pimenta...
[...]
O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto! A força dele, quando quer - moço - me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza."

João Guimarães Rosa, 'Grande Sertão: Veredas', 1956.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Nonsense Pop Freudiano


Sou mais além que voar à pé
Daqui pra lá e acordar sozinho

Tem uma pedra no meu caminho,
Que me rasga o pé, quando como com a mão

Porque estão todos se iludindo?

Não vou vender o meu revólver

Quando ouço papo de amor, 

Aperto o cinto mais um pouco 

Ah se mamãe me visse agora,

Ia implorar pra que eu sumisse 

E se chorando me ajoelhasse,
E lhe implorasse um beijo

Me tomaria meu revólver Porque... 


Mamãe ama é o meu revólver
Mamãe ama é o meu revólver
Mamãe ama é o meu revólver
Mamãe ama é o meu revólver



Pato Fu, 'Mamãe Ama é o Meu Revólver'


sábado, 20 de abril de 2013

Para Beto e Rique



"Parti assim ontem de madrugada, andando a pé para mostrar que era de espírito humilde que eu me aproximava do santuário. E uma boa caminhada é decerto o melhor dos preparos para orações!

Parta de espírito revigorado, como um cavalo nutrido a milho; deixe que ele se empine e dispare, arrastando-o para cá e acolá. Nada o há de manter na estrada; pelos prados orvalhados ele buscará distração, esmagando onde quer que pise mil florações delicadas.

O dia contudo esquenta; cabe-lhe conduzi-lo, ainda a passos saltitantes, de regresso ao bom caminho; e ele o transportará de um modo leve e veloz, até que o sol esteja a pino e lhe sugira um descanso. Na realidade, e sem metáforas, a mente se move às claras por todos os labirintos da estagnação de um espírito quando pernas desenvoltas a impelem; e a criatura, com o exercício, se torna ágil. Suponho assim ter eu pensado muito, após toda uma semana passada dentro de casa, durante aquelas três horas que levei caminhando pela estrada para chegar a Walsingham.

"E meu cérebro, que a princípio, ligeiro e alegre, pulava que nem uma criança brincando, sossegou a tempo de dar-se a um trabalho sério, não obstante seu contentamento. Pois foi nas coisas sérias da vida que eu pensei - tais como a velhice, a pobreza, as doenças e a morte, considerando que seria parte inevitável do meu destino encontrá-las; e considerando também as alegrias e as dores que se encadeavam sem trégua pela minha vida. Tudo que fosse de somenos não iria mais me alegrar nem incomodar como outrora. Apesar de isso fazer eu me sentir circunspecta, senti também já ter chegado a um momento em que tais sentimentos são sinceros; e ademais, enquanto andava, parecia-me ser possível entrar nesses sentimentos e estudá-los por dentro (...)"

Virginia Woolf em "O Diário de Mistress Joan Martyn", 1906.


Pitangui - MG



De boas intenções, meu inverno está cheio









Every single day 
I take a cup of Earl Gray
Because this is the way
I pretend do be in the UK


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Meio Diva Meio Genio

Deus fez o Homem à sua imagem e semelhança e fez Caetano Veloso à sua personalidade.



A Bossa Nova é Foda
(Caetano Veloso)



O bruxo de Juazeiro numa caverna do louro francês

(quem terá tido essa fazenda de areais?)

fitas-cassete, uma ergométrica, uns restos de rabada.

Lá fora o mundo ainda se torce para encarar a equação

pura-invenção/dança-da-moda.

A bossa nova é foda.

diz que quando chegares aqui

que é um dom que muito homem não tem

que é influência do jazz

e tanto faz se o bardo judeu

romântico de Minesota, porqueiro Eumeu

o reconhece de volta a Ítaca:

a nossa vida nunca mais será igual

Samba-de-roda, neo-carnaval, Rio São Francisco,

Rio de Janeiro, canavial.

A bossa nova é foda.

comanda as ondas do mar, ondas sonoras

com que colore no espacial.

homem cruel destruidor, de brilho intenso, monumental,

deu ao poeta, velho profeta,

a chave da casa de munição.

das raças tristes

Em Minotauros, Junior Cigano, em José Aldo, Lyoto Machida,

Vítor Belfort, Anderson Silva e a coisa toda:

a bossa nova é foda

O magno instrumento grego antigo

O tom de tudo

O velho transformou o mito





domingo, 14 de abril de 2013

Face to Face

Estou lendo um livro sobre fotografia e essa semana fiquei pensando no poder das imagens, poder esse que vai muito além do trabalho intelectual, embora facilmente seja rico material para isso. As imagens estão aí, tão onipresentes que alguns argumentam que vivemos um ditadura das imagens, que estaríamos saturados delas. Não vou entrar nesse tipo de discussão, por mais interessante que sejam as visões semióticas, psicanalíticas ou cognicistas. 

Meu interesse mesmo é contar sobre duas exposições fotográficas maravilhosas que tive a oportunidade de ver e que me tocaram tão profundamente que gostaria compartilhar. A primeira me pegou pela emoção mais básica possível e a segunda através de uma elaboração intelectual muito mais complexa.

A primeira foi a exposição "Face to Faceque vi em 2005 no Museu de História Natural em Londres: uma ala do museu que abrigava conjuntamente um livro de Charles Darwin e uma assombrosa coleção de 30 retratos de James Mollison. Essa ala foi isolada do resto do museu e formava um corredor de dimensões palacianas que estava na penumbra, restando iluminados apenas imensos painéis de dois metros de altura dispostos paredes laterais e dianteira. Eu não sabia do que se tratava e fui surpreendida por me deparar com imensos retratos de chimpanzés, gorilas, bonobos e orangotangos, os chamados primatas superiores.

Não uso o termo assombrosa sem motivo. Devo dizer que após alguns minutos, precisei sair da sala, pois comecei a chorar copiosamente pelo impacto daquele ambiente e daqueles painéis. Levei algum tempo pra entrar de novo e jamais vou me esquecer do que vi e senti naquela tarde.



Katie


Pela dimensão das fotos, sua disposição e a iluminação escolhida, fiquei verdadeiramente face a face com aqueles seres tao absurdamente iguais e diferentes. Era como me olhar no espelho e ver outras de mim com olhares torturados, perdidos, distantes. Minha emoção foi tal que ate hoje não tinha conseguido racionalizar, transformar em palavras e somente agora reconheço o que vi naqueles retratos.


Dizem que os humanos são programados geneticamente para reconhecer desde bebês emoções nos rostos de nossos pares, trata-se de uma característica hereditária. Até aí tudo bem, o que eu não esperava era reconhecer tais emoções naqueles rostos. E não eram emoções quaisquer. Todos os 30 animais retratados vinham de abrigos, a maioria era órfã, muitos vítimas do mercado negro de caça ou captura de animais vivos. Todos haviam sofrido traumas físicos e emocionais antes de serem resgatados. E foi isso que eu vi em seus olhos, no rosto de cada um deles: dor, confusão, alienação. Alguns eram praticamente bebês, outros já idosos, em alguns distúrbios mentais eram perceptíveis.


Gregoire

Cada painel era acompanhado de um texto que dava algumas informações sobre o animal retratado. Naquele dia, eu preferi não ler esses textos de pronto. Primeiramente, vi cada um dos retratos e fiquei imaginando o que eu consegui ler em seus olhos. Somente após isso é que eu fui novamente em cada retrato e chequei as informações. Foi muito interessante, pois algumas coisas eram absolutamente inesperadas.

O fotógrafo foi tão potente que senti que em cada painel ele havia capturado um indivíduo e suas dores e personalidade(por isso eu prefiro o termo retrato) e não mero um macaco, mas um bonobo cujo rosto estava à minha frente, sua história e um nome estavam ali ao lado para que eu pudesse juntar as metades. Sei que somos capazes e tendemos a antropoformizar qualquer coisa, incluindo rochas. Mas o ponto ali era justamente esse, eu não o estava humanizando, ele estava jogando sua humanidade na minha cara! Ou, pelo menos, tudo que normalmente percebemos como humano.

O retrato de Katie, por exemplo, tinha a seguinte inscrição: "2 anos, Chimpanzé, fêmea, nascida na República de Camarões. Pais mortos para comércio de carne de caça. Confiscada do traficante por um caçador que a manteve em uma pequena caixa em uma cabana na vila de Akom. Sofre de doença mental. Fotografada em Dezembro de 2001".

Outros retratos traziam informações da personalidade de cada um, travessos, irritados, carinhosos. Não me esqueço de um deles que não conseguia dormir no escuro ou sem seu urso de pelúcia. Felizmente, muitos dos retratados conseguiram se recuperar, pelo menos em parte, nos abrigos onde estavam vivendo. Outros sofreram danos emocionais tão profundos que possivelmente irreparáveis.

Afora as questões preservacionistas e evolucionistas que a exposição certamente levanta, foi a minha emoção que me pegou de calças curtas. Creio que eu ficaria tocada por retratos de crianças refugiadas ou fotografias de guerra ou da seca num vale qualquer no mundo. Mas, encontrar sinais tamanhos de dor e personalidade em caras de 2m x 1,5m - caras de macaco - foi certamente algo inesperado e profundamente tocante, triste e enriquecedor.



Tatango

A propósito, o livro de Darwin que estava à disposição para consulta na exposição era 'The Expression of the Emotions in Man and Animals'. 

http://www.nhm.ac.uk/resources-rx/files/face-to-face-information-pack-14733.pdf

http://www.jamesmollison.com/project_apes.php



sábado, 13 de abril de 2013

I Scream

I

I was some Ice
Which was awfully nice,
But which nobody tasted
And so it was wasted.
i!
Very cold ice!


Eduard Lear
The Complete Verse and Other Nonsense



Miss Van - IceCreamGal

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Civilizada


"É um lugar-comum que não há solidão que se compare à de quem se vê sozinho numa multidão (...). No interior teria havido o açougueiro ou o carteiro ou a mulher do pastor; mas numa cidade altamente civilizada as amabilidades da vida humana se estreitaram no menor espaço possível. O açougueiro larga sua carne pela área; e o carteiro enfia sua carta na caixa, sendo sabido que a mulher do pastor já atirou as missivas pastorais pela mesma brecha tão cômoda: todos eles repetem que não têm tempo a perder. Assim, ainda que não se coma a carne, que as cartas fiquem por ler e que os comentários pastorais sejam obedecidos, ninguém se torna mais sensato."
Virginia Woolf em 'O Misterioso Caso de Miss V.' 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Bob


No fundo, sempre quis 
ser o Bob Esponja mas acabei 82% Lula Molusco, 17% Patrick Estrela e 1% Plancton...