Dois dois lados da alameda, os chimpanzés estão gritando para mim. Eles gesticulam profusamente e vocalizam ensandecidos. Seus saltos e guinchos chamam a atenção de alguns babuínos que estão mais distantes, deitados à sombra. Eles também vão se aproximando andando aquele andar símio desarranjado pelos rabos impudentes e projetando as presas em minha direção.
Apenas caminho, tentando não aparentar medo ou a irritação que é bombeada para cada centímetro do meu corpo. Fico tentando descobrir o que fiz que para perturbá-los e descubro que foram os meus braços gordos, que hoje apresento desnudos.
Os gritos não diminuem, apenas acompanham a direção que tomo. Um macho se aproxima mais que todos e estende a mão para agarrar meus cabelos, mas desvio ligeira. Não posso correr nem demonstrar medo. É preciso demonstrar força ou ser atacada.
Há um lago perto e preciso decidir se é um bom lugar para me refugiar. Provavelmente não é, pois a água só pode me proteger por um tempo, depois é preciso voltar para o mesmo caminho. As fêmeas e as crias não estão à vista, devem estar nas árvores mais distantes, escondidas ou escondendo-se.
Sinto dedos secos agarrando minha panturrilha. Grito com o susto e isso parece excitá-los ainda mais. Tento correr, mas me lembro que jamais alcançaria qualquer resultado correndo. Mesmo que eu corresse como uma gazela, ainda seria apanhada pela intransponível diferença numérica. Consigo livrar minha perna e caminho mais rápido que pretendia.
Alguns machos mais jovens avançam à minha frente, correndo e guinchando horrivelmente. Há uns dez metros eles cruzam a alameda, bloqueando a passagem. Não há o quê fazer, mas não consigo parar e tento correr.
De repente, vários deles estão ao meu lado, cercando todo o perímetro ao meu redor. Nessa hora, tenho medo de que meu pior pesadelo se realize. Temo que, como todos dizem, eu goste da zaragata, que as imundas patas simiescas em meu corpo me agradem.
Mas isso não acontece. Continuo à beira da náusea, confusa e enojada pelos hálitos das bocas podres. Estão bem próximos seus olhos injetados de sangue e testosterona. Patas viscosas, sujas de comida e excrementos, me tocam, me ferem.
Sou impotente contra a horda. Não há o que ser feito. Ajoelhada no chão, seguro a cabeça nas pernas e me encolho até me transformar em uma rocha. Me defendo na inércia: aguento os puxões, as unhadas, as ejaculações, a gritaria. Espero passar. No olho do furacão, me sinto segura. Podem fazer o que quiserem, já não me amedrontam. Estou em outro lugar.
Não há o que lhes perdoar, são monstros horríveis. Não deve haver condescendência. Não fazemos parte sequer da mesma espécie. Não são meus braços gordos nus, são apenas esses desprezíveis macacos que atravessam o caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário