É engraçado, mas desde pequena tinha umas manias esquisitas. Uma delas era achar que iria ficar cega de um dia pro outro. Comecei a fazer várias coisas no escuro, como comer, trocar de roupa, me locomover pela casa e tomar banho (o que faço até hoje) sem ligar uma lâmpada.
É possível que essa mania fosse influenciada por um casal de cegos que moravam perto da minha casa e que eram amigos de minha mãe, mas acho que não. Nem pelo fato de que aos sete anos tomei uma chinelada no olho. Estava engajada em uma atividade que sempre havia me proporcionado um prazer sádico e saudável: provocar cócegas na minha irmã. Não sei porque, mas ela nunca entendeu a graça da brincadeira, tanto que esperneava e se contorcia, mandando chutes para todos os lados. E, como sempre, reclamava para minha mãe. Naquela noite, após pelo menos umas três ameças, minha mãe perdeu a paciência e tirou as havaianas para me dar umas chineladas.
É possível que essa mania fosse influenciada por um casal de cegos que moravam perto da minha casa e que eram amigos de minha mãe, mas acho que não. Nem pelo fato de que aos sete anos tomei uma chinelada no olho. Estava engajada em uma atividade que sempre havia me proporcionado um prazer sádico e saudável: provocar cócegas na minha irmã. Não sei porque, mas ela nunca entendeu a graça da brincadeira, tanto que esperneava e se contorcia, mandando chutes para todos os lados. E, como sempre, reclamava para minha mãe. Naquela noite, após pelo menos umas três ameças, minha mãe perdeu a paciência e tirou as havaianas para me dar umas chineladas.
Para o azar dela e meu, as havaianas nunca foram muito fiéis à propaganda e a tira se soltou em pleno ato de punição, de modo que ao invés da merecida bronca, ganhei uma visita ao oftalmologista. Nada de grave se sucedeu mas, minha mãe passou uns dias me paparicando por se sentir culpada (recomendo às crianças com excesso de energia que aproveitem este momento, porque dura pouco).
Outra coisa que eu fazia era brincar usando um tampão no olho. Não lembro por qual razão fazia isso, mas minha mãe diz que eu de vez em quando brincava assim, vai ver que era vontade de ser pirata ou ver o mundo com um olho só... Acredito piamente porque tem até foto para provar.
Quando adulta esqueci essa história de ficar cega porque enxergava muitíssimo bem e frequentemente ia a oftalmologistas que garantiam a integridade de minha visão. No entanto, eu já devia saber que é quando descuidamos que a coisa acontece. Não é que alguns meses atrás quase fico meio cega?
Meu olho esquerdo deu erro e a retina descolou, igualzinha à tira da havaiana. Segundo minha médica, a causa é puramente idiota e pior, rara. Não tenho diabetes, não tive nenhum traumatismo nem tenho miopia, que são os fatores mais comuns do descolamento. De acordo com a médica, menos de 5% da população nasce assim como eu, com pequenos furinhos nas retinas, chamadas ruturas.
Com a idade o gel que preenche o olho vai se liquefazendo e, ficando mais líquido, passa pelas tais ruturas, empurrando e descolando a retina e fazendo muita gente perder a vista e eu, a paciência. Passei por duas cirurgias e a terceira está por vir, mas ainda enxergo (um pouco pior) nesse olho.
Com a idade o gel que preenche o olho vai se liquefazendo e, ficando mais líquido, passa pelas tais ruturas, empurrando e descolando a retina e fazendo muita gente perder a vista e eu, a paciência. Passei por duas cirurgias e a terceira está por vir, mas ainda enxergo (um pouco pior) nesse olho.
Não satisfeita com isso, recentemente descobri que tenho propensão ao glaucoma pigmentar, que é pouco comum para mulheres da minha idade. Esse glaucoma é causado pelo entupimento dos canais de drenagem do olho por pigmentos que se soltam da íris. Quer mais ou tá de bom tamanho?
Com isso tudo, aprendi duas Lições de Vida. A primeira é que a Oftalmologia é uma especialidade muito engraçada. Os nossos olhos são cheios de coisas com nomes divertidos como humor vítreo, moscas volantes e filme lacrimal. E os exames? Retinografia, goniscopia, tonometria, campo de visão e uns quinze mais... Ser Oftalmologista parece coisa de Professor Pardal, eles têm um milhão de aparelhos, lentes, máquinas, instrumentos... se juntar tudo numa sala fica parecendo laboratório de filme de terror da década de 40.
Outra lição bem aprendida é que eu devia ter prestado mais atenção aos exotismos da infância. Uma criança tão sábia quanto eu fui, e fiquei tão boba de adulta!
Beleza, Lu!
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