terça-feira, 30 de julho de 2013
Vetusta Vivenda
Por faltar quem lhe tomasse conta, o mato e as bananeiras, os pássaros e os micos encarregaram-se da direção.
O gado há muito se foi. Os cavalos e cães também.
Ainda presos no vento, os risos da criança loura, que um dia caíra da janela machucando a fronte na pedra pontiaguda, volteiam entre os pés de fruta.
Hoje, o musgo grassa nos poliedros rústicos que levam ao alpendre, os morcegos morcegam pelos beirais e são os únicos a atrever-se no interior.
Entregue à si própria, flutua no tempo e não compartilha as memórias dos anos em que a Bígama lá vivia nem a vibração descuidada dos reisados que enchiam de música a propriedade.
Também não reconta as vezes em que os guinchos dos suínos sacrificados comprimiam o ar com pavor e morte, ou mesmo quando o mancebo Luiz quase se foi Desta Para Uma Melhor no incêndio do paiol, tudo porque, boêmio, dormira embriagado.
Agora ela floresce isolada, distante da ciência dos Outros, e desabrocham novos veios que raiam o azul esmaecido das paredes.
Mas não pense que está abandonada, ocorre que não é mais uma casa, mas uma Caravela singrando o verde líquido do Oceano do Tempo, enquanto a tripulação ligeira chireia levando a vela solta.
A baravento estavam Eles, a sotavento estou Eu.
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Onde fica? De quem era? Que mais se conta?
ResponderExcluirNos rincões de Minas Gerais. Dos meus tataravós. Se conta muito, mas tanto que preciso era dias e noites em volta da fogueira em frente ao paiol, fazendo quitandas no forno de barro e pilando café... vamos?
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